UMA REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO ATRÁS DA PALAVRA
...isso é o aprendizado .de súbito você compreende algo
que havia precedido vida inteira mas de maneira nova
que havia precedido vida inteira mas de maneira nova
(Doris Lessing)
Em nosso dia-a-dia costumamos utilizar muitas expressões e termos que denotam preconceito sem que tenhamos plena consciência disso. Assim, as novelas, os meios de comunicação de massa e as propagandas estão repletos de chavões preconceituosos, muitas vezes mascarados em sátiras e situações engraçadas, as quais servem simplesmente para manter um determinado status quo que um segmento social acha recomendável. Rimos da mocinha “bonita e burra” de determinado programa de televisão e não percebemos o quanto isso é estereotipado e preconceituoso. Ouvimos e vemos, a todo o momento, expressões que denotam preconceito racial, étnico, estético e muitos outros. É preciso parar para refletir um pouco. Alguns termos transformam-se em diagnósticos de vida. Foi o que ocorreu com o termo “menor”. Menores eram sempre os filhos dos outros, aqueles que estavam na rua, era a cultura menorizada. O nosso filho era sempre uma criança ou adolescente, mas o filho do outro, do menos favorecido era um “menor”. Tomando consciência desse fato a sociedade aboliu o termo menor e passou a chamar todos os filhos de crianças e adolescentes, culminado com o fim do código de menores e com a promulgação do Estatuto da Criança e Adolescente.
Com os discursos e a literatura das famílias adotivas tem acontecido algo semelhante, onde se percebe, por trás da semântica, e que fazemos aqui uma moção para que isso seja modificado. Algumas pessoas perguntam para a mãe adotiva se “essa é a criança que você pegou para criar”; se a família possui filhos biológicos e adotivos, as pessoas costumam apontar para um deles e perguntar: “é esse o seu”?; Ou ainda, após saber da adoção, pessoas podem perguntar, mas “você conhece a mãe verdadeira dele”? Todas essas frases demonstram uma falta de esclarecimento associada ao preconceito em relação à esta constituição familiar.
De maneira geral, quando se fala em família adotiva, utiliza-se a antítese “família verdadeira”, “família natural”, “família legitima”. Temos por convicção, por força dos dados científicos, que a família adotiva não é artificial não, mas é tão verdadeira e legitima quanto a outra. Sua essência não é diferente, mas somente a contingência de como foi constituída. Então, sugerimos que sejam utilizados os termos família de sangue, família biológica, família de origem em contraposição à família adotiva. Da mesma forma, quando se fala em filho adotivo, a antítese mais comum é falar “filho verdadeiro”, “filho natural”, “filho legítimo”, “filho meu mesmo”. Sugerimos que sejam utilizados os termos filho de sangue e filho biológico, pois o filho adotivo não é artificial, nem falso ou ilegítimo e é filho mesmo dos seus pais adotivos!
Texto extraído de WEBER, Lídia. Laços de ternura. 2.ed. Curitiba: Juruá Ed, 1999. p.124-125.
Disponível em www.adocaorenascer.org
Muito bom este texto. Muitas vezes utilizamos mesmo esses termos por pura falta de sensibilidade. Depois que conheci algumas mães que tem filhos gerados no coração, comecei a compreender melhor esses fatos e abolir da minha linguagem tais termos. Filhos são filhos e ponto. De que modo foram gerados pode haver diferenças, mas não no modo como são amados.
ResponderExcluirBeijos
Texto maravilhoso! São tantos os preconceitos ainda entre todos nós, seres humanos...
ResponderExcluirBjssss.