terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sobre decisões importantes, inseguranças e incertezas! (parte 2)



Aqui -----►Parte 1 temos o resumo do desenvolvimento. Sigo com a fase escolar!


Chegamos ao primeiro ano e ela não registrava alguns números e algumas letras. Levou tempo para ela apreender o que era um número cinco e entender que '5' representava o número cinco. E com o oito, e com o nove. Todo santo dia a gente fazia as tarefinhas dos números e todo santo dia ela chorava que não sabia. Ela fazia os numerais 1, 2, E, 4, 6, 7, 10. Cinco, oito e nove não existiam. Três era sempre 'e' maiúsculo. Foi assim quase o ano inteiro. Todo mundo falava que era normal, mas ela sofria e quando decidi marcar a neuro, de um dia para o outro ela fez todos os numerais.
Okay, então! E terminou o ano fazendo os numerais, mas tropeçando nas letras.

Chegou o segundo ano. As dificuldades foram aumentando com o decorrer dos bimestres e ela não compreendia como fazia as contas, ela não entendia o que a lição estava pedindo para fazer e os livros começaram a vir para casa sem as lições feitas.
Todo dia uma choradeira. Ela sofria para compreender. Eu sofria para ajudar. Ela não fazia na escola, eu ficava brava em casa. E toda vez que eu perguntava:
- Mas por que aqui você responde tudo e na escola você não faz nada?
- Porque aqui você lê para mim!
E essa resposta insistente me acendeu um alerta! Se ela só compreende quando alguém lê ela pode, realmente, ter algum problema.
Passei a perceber que ela errava nas provas não por falta de conhecimento, mas por não entender o que as questões queria dela. Algumas respostas não tinham nada a ver com o que pedia a questão.
E assim terminamos o segundo ano, com tardes intermináveis de choros porque não sabia, porque não entendia, mas quando eu perguntava ela respondia.
E muito embora eu imaginasse que pudesse haver alguma desconexão entre o que é aprendido e a colocação em prática do aprendizado nos exercícios eu tinha dificuldade de entender porque era tão difícil responder escrevendo e tão fácil responder falando. Porque era tão fácil me explicar como se faziam as contas, mas não conseguir fazer as contas. Porque me contava com facilidade a história do livro e não conseguia responder as questões de compreensão do texto.

O terceiro ano iniciou como terminou o outro. Dificuldades na compreensão, choros, choros, 'eu num consigo', 'eu num sei', 'eu só consigo porque você lê para mim'.
Toda semana de prova era um estress. Quase toda lição de casa que envolvesse contas e textos, também.
De vez em quando dava um insght, ou algumas matérias ela compreendia mais fácil, e as provas vinham com notas melhores, aí eu relaxava e nas provas seguintes voltávamos à estaca zero de choros e notas vermelhas com provas mal respondidas ou não respondidas com ela sabendo a matéria.

Do meio deste ano em diante passei a observar que:

- A leitura dela está aquém da fase em que ela está. Ela lê uma palavra quando está escrita outra, acrescenta ou subtrai letras, sílabas.
- Ela não desenvolve 3 comandos se eu não estiver perto falando 'faça isso, isso e aquilo'. Se eu dou três comandos e mando ela ir fazer, por exemplo, em seu quarto, sempre um ou dois...ou dois e meio!...estão sem fazer, ou estão todos feitos pela metade ou algo que o equivalha.
- Tem dificuldade com sequências. Não consegue desenvolver as tarefas na sequência. Se perde indo e vindo nas contas e nas questões.
- Esquece! A frase que mais ouço 'eu esqueci...'. Esquece caderno e livro da lição de casa na escola, esquece estojo em casa, esquece de dar a agenda para a professora quando tem bilhete e eu peço para entregar. Esquece...
- Perde as coisas. Perdeu 2 blusões, dois cadernos. Borrachas, lápis e apontador nem faço mais contas.

Observando tudo isso comecei a me questionar se eu não estava fazendo com ela justamente o que eu não queria fazer.
Quando procurei a neuropediatra aos um ano e oito meses de vida dela foi justamente pensando que haveria a possibilidade de ela desenvolver algum transtorno de aprendizagem e porque toda criança que tem algum transtorno, antes de ser diagnosticada sofre! Sofre porque não entende o que acontece com ela, sofre porque os amigos rendem e ela não, sofrem porque tem consciência de que existe algo errado para ela ser diferente dos amigos, sofre porque ela aprende e então é taxada de preguiçosa, de acomodada.
Passei a ouvir que ela aprende. Não tem problema de aprendizagem. E eu sei disso. Ela é esperta, inteligente, aprende, sabe, mas não consegue colocar em prática o que aprendeu.
E eu brigava, obrigava a estudar, ficava junto tomando a lição, ficava tomando a lição dela pela casa, no carro a caminho da escola e quando vinha o resultado da prova era aquela decepção. Eu fazia a pergunta da prova e ela respondia certo, mas na prova estava ou errado, ou não respondido.

E, como não poderia deixar de ser, passei a sentir culpa por estar, talvez, fazendo com ela o que eu tentei evitar a vida toda.
Por conta disso, de como encerramos o ano, decidi que é o momento de fazermos uma avaliação para saber o que, realmente, acontece com ela. Sofre porque, não conseguindo render, fica com problemas de disciplina.
O pai, as professoras, a avó, todo mundo fala que ela não tem nada mas é impossível, para mim, não comparar a questão da aprendizagem dela com a dos irmãos. Eles não tinham nada. Não tinham nenhum tipo de dificuldade e eu nem precisava ficar junto para fazerem tarefas ou estudarem. Eu administrava conforme eles precisavam até que ganharam autonomia. Ela já vai para o quarto ano e não vejo uma luz de autonomia para ela no final do túnel.
Tomada a decisão, marquei com a pediatra. Ela me ouviu atentamente e crê que estou no caminho certo, que ela pode ser limítrofe, ter algo bem leve, mas que pode ter algo, sim. Estamos com as guias para neuro, fono e psicóloga. Uma já está agendada, as outras estou esperando agenda.

E aí tive que tomar uma outra decisão muito mais relevante: manter na escola ou tirar e passar para uma escola pública enquanto passamos pela avaliação. E depois de pensar muito, pesar prós e contras, decidi tirar e colocar na escola pública. Assim ela terá uma folga no excesso de cobranças (da escola e de mim) porque muita coisa ela já terá aprendido e vai rever, outras ela vai aprender, mas num ritmo mais lento.
Eu creio que terei tranquilidade para a avaliação e ela terá tranquilidade nas cobranças enquanto é avaliada.
Não foi uma decisão fácil. Não, mesmo, mas creio que é a melhor para o momento e ela compreendeu bem. Está até ansiosa porque na escola nova ela tem amigos 'velhos' com quem ela convive pouco atualmente.
E tomei a decisão pelo fator financeiro, também. Tem especialistas que ela precisará passar que o convênio não cobre. Terei que pagar. Esse é um fator relevante, também, para a decisão.

E cá estou, com a decisão tomada, com as coisas encaminhadas, mas com medos, receios, incertezas não pelo que possa ser avaliado nela, mas pelas consequências que poderão incorrer sobre ela devido às minhas decisões.
De qualquer forma estou confiante que estou, sim, no caminho certo quanto à avaliação. E se eu não estiver, se ela não tiver nada tanto melhor para ela, principalmente. No final do próximo ano sei que terei que tomar novas decisões e que tudo dependerá do que for diagnosticado. Se não tiver nada, volta para o colégio. Se tiver, viverei nova fase de tomadas de decisão. Mas isso tudo é coisa para o futuro. Nem vou me ocupar com isso. Aprendi há algum tempo a viver um dia por vez. E assim será!

Que Deus nos guie a todos: pais, profissionais, novos professores, nova escola para que o melhor seja sempre o que se conquiste para ela!


Abraços,

Cláudia



segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sobre decisões importantes, inseguranças e incertezas! (parte 1)





Sempre que precisamos tomar uma decisão importante para as nossas vidas é comum sentirmos inseguranças das mais variadas.
Quando essa decisão vai mudar a nossa vida, sentimos mais do que insegurança. Sentimos medo. Muito medo!
Medo do novo, medo do desconhecido, medo de sairmos da nossa zona de conforto, medo do que teremos que enfrentar depois.
Isso tudo quando é com a gente.
Quando a tomada de decisão está relacionada a filhos, à vida dos filhos, todas essas incertezas, todos os medos, todas as inseguranças ficam potencializadas!
Se é difícil tomar uma decisão importante para nossas vidas, para a vida dos filhos é algo muito angustiante.
E era assim que me encontrava já há algum tempo em relação à pequena, mas antes de adentrar na decisão e nos motivos, vou contar a história toda do nascimento até os dias de hoje!

Ela foi gerada em situação adversa ao que é esperado para uma gestação, fato que a colocou com predisposição para alguns problemas no decorrer do seu desenvolvimento.
É sabido que não existe uma quantidade segura para o consumo de álcool/drogas na gestação que não predisponha o feto a ter problemas no desenvolvimento neurológico.
O álcool, as drogas podem... veja bem: PODEM...predispor esse feto a uma série de problemas que vão desde a microcefalia a uma série de problemas de aprendizagem, tais como TDA, TDAH, dislexia, entre outros.
Esses problemas de aprendizagem só começam a se manifestar quando? Na fase de aprendizagem, naturalmente, entretanto existem outros sinais que podem indicar que esses problemas poderão dar o ar de sua graça no futuro.
Então eu tinha uma criança com refluxo, asma e dermatite atópica (ah, mas isso tem muita criança biológica que tem, neahmmm?). É, tem! Então ela passou a ter um sangramento hemorrágico no nariz, e febre sem motivos aparentes todos os dias, manchas roxas que iam crescendo na sua pele. Suspeita de leucemia, exames. Nada. Fomos para a homeopata. Dois meses de medicamento homeopático e o diagnóstico: hiperalergenia.
E eu tive uma criança com insônia. Insônia iniciada aos 6 meses de vida e tratada, a partir de 1 ano e 8 meses (porque tinha que esperar nascer os dentes, segundo a pediatra) com aurículo-acupuntura por um ano.
E então fomos parar na neuropediatra. Ela foi acompanhada pela neuro até 5 anos e meio porque o desenvolvimento estava normal até então, mas eu deveria observar bem e atentamente o período de aprendizagem, a partir do primeiro ano. Segundo a neuropediatra a inteligência que ela tinha para aprender e reproduzir as coisas no dia a dia nada tinha a ver com a inteligência que ela usaria na aprendizagem acadêmica, principalmente nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática que seria onde surgiriam as dificuldades maiores caso manifestasse algum distúrbio.
E então, nesse meio tempo, me foi sugerido pela neuro uma visitinha à fono porque a fala dela não era adequada para a idade, no que a pediatra concordou plenamente.
Eu entendia muito bem o que ela falava. Mas apenas eu. Nem o pai, nem os irmãos e muito menos as pessoas de fora do convívio diário compreendiam o que ela dizia.
E fizemos fono por dois anos.
Desfralde do dia com três anos e 4 meses. Perfeito. O normal é até os 4. Desfralde da noite com 4 anos e 3 meses, xixi na cama até quase cinco anos e meio. Isso foi muito além do esperado.
Fomos encaminhadas, então, para a psicóloga pelo xixi, mas ela não viu nada demais no emocional da criança e a dispensou. Falou para verificar e descartar algum problema físico. Fizemos exames de toda ordem. Nenhum problema físico. O negócio foi esperar até passar. E lavar uma infinidade de roupas de cama e pijamas, e forrar colchão, e colocar colchão para secar quando nem o forro dava conta porque tinha noites que ele recebia xixi de duas a três vezes.

Isso tudo pode parecer bobagem, mas tudo tem a ver com o desenvolvimento neurológico e eu fiquei atenta, observando e vendo que tudo com ela era muito diferente do que foi com os irmãos. Mesmo os irmãos tendo sido bem diferentes um do outro no desenvolvimento, algumas coisas eram comuns aos dois e com ela nada era comum. Nada.

Essa é a história dela dos oito anos e meio de vida.
Uma coisa ou outra isolada em uma criança pode ser normal, mas ela tem diversos fatores que, juntos, podem sinalizar para um possível problema na aprendizagem.
A insônia, o xixi na cama, o problema de fala, a hiperalergenia, todos juntos são sinais importantes que não podem ser ignorados.

No próximo post continuo com a questão do início na escola e seguiremos apontando outros fatores que me acenderam o alerta amarelo até chegar na decisão!

Abraços,

Cláudia

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Dia das Crianças e representatividade!

Imagem tirada de Lembrança Real

Este ano a Taís não pediu presente para o Dia das Crianças.
Na verdade ela nunca pediu. O negócio dela é com o Papai Noel ainda.
Ela, também, nunca brincou de forma tradicional com as bonecas. Qualquer pessoa que veja as bonecas dela dirá que ela estraga. Eu diria que ela customiza.
Pinta as caras das bonecas com canetas de retroprojetor. Segundo ela, não são rabiscos, são maquiagens permanentes.
Faz bandanas com os vestidinhos. Sim, ela cortou todos os vestidinhos e amarrou o que sobrou na cabeça das monstras bonecas que ela customizou.
Acontece que de uns meses para estas bandas ela vem brincando de boneca como toda mãe sonha (toda???), da forma tradicional, fazendo a boneca de filhinha, querendo cuidar, trocar roupinhas, querendo mamadeira (não vou entrar no mérito comercial da mamadeira e o que ela incentiva porque não vem ao caso neste momento) e fraldinhas.
Acontece que ela não tem mais bonecas grandes que possam ser seus bebês. Todas estão com a cara do Chuck, então não rola materná-las]. Assim sendo, ela fez de seu bebê um cachorro de pelúcia medonho, sem focinho, com os olhos estropiados, mas que tem um tamanho bom e é fofinho. Nele cabem roupinhas que foram dela quando nasceu para mim.
Pegou tanto gosto de maternar o cachorrão que me pediu para comprar fraldas.
Em dias que podia levar brinquedos na escola, ela andou levando o seu 'bebê' para brincar com as amigas que, naturalmente, levam bonecas com cara de bebês, mas a Taís é desencanada e não liga para a aparência do bebê dela. Ao menos a vejo brincar feliz e nunca me falou nada!
Por conta desse conjuntinho de coisas fiquei pensando: por que não dar a ela uma boneca? Um bebezão de corpo de tecido, molinho, num tamanho que caibam as roupinhas? E um pacotinho de fraldas, também? E umas roupinhas que foram dela lavadas, passadinhas, tipo um kit de maternidade? E uma mamadeirinha, claro?

Eu sempre fui uma mãe desencanada com as brincadeiras das crianças. Nunca liguei se menino brincava de boneca e fogãozinho, se menina gosta(va) de bola e carrinho de controle-remoto ou caminhões enormes com caçambas para brincar de areia no parquinho. Nunca reprimi nenhum tipo de brincadeira e nunca restringi nenhum tipo de brinquedo. Sempre ensinei a eles que cor faz parte da natureza e é de todo mundo e que brinquedo foi feito para brincar. Fim. É isso o que penso, mas quando um deles tem inclinações ou despertam para algumas brincadeiras que seriam socialmente aceitáveis (e desejáveis!) aos olhos duzotros, também deixo rolar sem reforçar nem criar teorias como 'ah, muito bem, agora você está brincando como uma menina deve brincar!'. Nada disso. Quer skate no final do ano, vai ganhar, mas está 'ligada' em maternar agora, tudo bem, também!

Pois bem, hoje fui colocar meu plano em prática: comprar a lembrancinha de Dia das Crianças. Lembrancinha, mesmo. Nada caro.
Falei para ela que vai ser surpresa, já que ela não pediu nada. A expectativa da surpresa, confesso, é bem mais legal do que ela ficar esperando o tal brinquedo que quer porque vê no comercial.
Andando na rua do centro, passo em frente a uma loja e vejo A boneca. Tamanho ideal, rosto bonito, precinho maaara (39 dilmas). Entro, pego a caixa, olho, o vendedor vem:
- Moço, eu queria essa boneca com pele escura, morena ou negra.
- Ah, não tem!
- Mas não tem porque acabou, ou não tem porque não fabrica, ou não tem porque vocês só compraram bonecas loiras?
- Essa boneca a Estrela só fabrica assim (tenho minhas dúvidas, mas esqueci o nome da boneca para pesquisar), como estas que estão aqui. Mas olha, ela é bem bonita!
- Sim, moço, ela é linda, mas eu quero uma boneca de pele escura.
- Ah, aqui no fundo tem uma em promoção, também. Dela tem com pele escura como a senhora quer...
- Mas, moço, essa boneca é infinitamente menor do que aquela. Quero uma daquele tamanho. Quero uma boneca para que a criança brinque de vestir, colocar fralda como ela está interessada em brincar neste momento.
- Então leva aquela, mesmo! Ela é bem bonita!
- Sim, moço, ela é bonita mas não me serve.

Aí vem uma moça tentando ajudar:

- Ah, mas a criança não vai ligar se a boneca é loira ou se tem pele escura...
- Será, mesmo? Uma criança negra não liga de ganhar uma boneca loira de olhos azuis para ser sua filha? Você acha isso? Você já ouviu falar em representatividade? Eu quero dar uma boneca de pele escura para uma criança mestiça. E quero uma boneca grande. É, no mínimo, absurdo a empresa fazer bonecas de pele escura apenas de tamanhos pequenos. Uma criança mestiça ou uma criança negra não merecem uma boneca grande representando seu tom de pele? Se elas quiserem uma boneca parecida com elas, têm que se contentar com bonecas pequenas?
- ...
- Então, nós temos essa outra que também tem pele escura como a senhora quer...
- Mas é pequena! Olha, tudo bem. Deixa para lá. Vou dar uma andada.
- Para quem é a boneca que a senhora quer comprar?
- Para a minha filha!

Indescritível a cara dos dois!

- Sua filha?
- É! Minha filha! Ou eu não posso ter uma filha mestiça?

Outra moça:

- Senhora, achei esta outra boneca, aqui...
- Obrigada pela atenção de vocês. Vou dar uma andada e procurar em outras lojas. Talvez eu encontre uma boneca grande morena ou negra.

Olha, tudo bem que os vendedores não têm culpa de o fabricante não produzir bonecas grandes com pele escura. Tudo bem, mesmo, mas eu fiquei muito frustrada.
Só não tudo bem eles quererem empurrar um produto que você deixou claro que não quer!
Tive que andar para encontrar a boneca como eu queria sem que fosse a um preço exorbitante só porque tem um peniquinho ou porque fala não sei quantas frases.
Todas as pessoas precisam entender que a boneca é como um espelho. A criança se vê representada nela. Ou não!
As bonecas que a Taís brincou melhor, bastante até, foram bonequinhas pequenas de pele escura. Estas ela não riscou as carinhas e não estragou as roupinhas. Estas ela estragou no banho, porque entrava água e chegou uma hora que tive que jogar fora. Nada mais tirava o mal cheiro de dentro delas mesmo colocando de molho na água sanitária.

Na outra loja, nas prateleiras à mostra, as bonecas grandes eram todas loiras de olhos azuis, também! As de preço baixo. Porque as de cento e muitos reais e que nem são tão grandes ficam à mostra e bem à altura das mãos das crianças. As pequenas também. E quando se pergunta sobre a boneca de pele escura é essa mais cara que oferecem. É só aquele modelo que tem.
Quando entrei na segunda loja e perguntei se tinha 'aquela' boneca lááááá do alto, com pele escura a vendedora disse que não, que só aquele modelo, mesmo, mas quando pedi para que ela pegasse uma para eu ver...supresa!!! Boneca de pele escura atrás da loira. E tiramos a outra loira e atrás uma negra. Gente, sabe...me senti frustrada, me senti com raiva, me senti mal pensando em por qual motivo as prateleiras precisam ter apenas as bonecas loiras na frente? Por que não intercalam bonecas do mesmo modelo loiras e negras na frente para que TODOS vejam que existe diversidade nas bonecas (e nos preços, naturalmente), para que as crianças tenham o direito de se sentirem representadas em seus tons de pele ou, simplesmente, tenham o direito de escolherem se querem um bebê branco ou um bebê negro independente da cor da pele que estas crianças tenham?

Eu achei a boneca que eu queria, como eu queria, do tamanho que eu queria, mas saí com gosto amargo na boca!
Até quando será que esse tipo de coisa vai acontecer? Até quando?
Eu gostaria de ter passado em frente às lojas, ter visto a diversidade das bonecas, ter entrado, visto preço, comprado sem ter tido que ficar explicando, pedindo, quase implorando uma boneca com características que não aquelas das prateleiras!
Eu gostaria e sei que dezenas, centenas, milhares de outras mães também!

Que todos nós, fabricantes de brinquedos, pais, tios, avós, lojistas, vendedores pensemos a respeito do que diz lá em cima na imagem 'toda criança gosta de brincar' e toda criança tem o direito de sentir-se representada quando ganha um brinquedo!

Que o Dia das Crianças seja de presentes, mas muito mais de presenças!

Abraços!

Cláudia




quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sobre falha de comunicação e filho desaparecido!

Imagem retirada de Psicologia e Relações Humanas
Sexta-feira meu filho desapareceu!
É! Desapareceu! O pai foi buscá-lo na escola por volta das 22h30m e a escola estava fechada.
Começou, então, um pesadelo!
O pai ligava no celular, que tocava, mas que o garoto não atendia. E nessa, as horas foram passando. Chegou as 23h, depois as 23h40m e nada! O telefone tocava até cair na caixa postal mas ele não atendia!
Qual seria o caminho mais rápido para tentar saber dele, então? Redes sociais e um grupo do watsapp!
Um amigo dele criou um grupo para marcarem encontros em pontos da cidade e adicionou o meu número como sendo dele. Comecei por aí. Como ele não estava com este amigo, o garoto me deu endereços onde eu poderia encontrá-lo: casas de jogos eletrônicos!
Publicações no Facebook pedindo informação aos amigos, afinal ele estuda em duas escolas e alguém deveria saber dele. Na minha cabeça isso era uma coisa lógica, mas ou não é tão lógico assim, ou existe um corporativismo adolescente que mesmo que algum deles saiba o que acontece, não se manifesta! Ainda tenho dúvidas a respeito!
Chegou a meia-noite, nós na rua, andando a esmo uma vez que as casas de jogos estavam fechadas. O que fazer? Ir à delegacia? Ah, mas eles só fazem BO com 24 horas do desaparecimento! Ah, mas eles estão acostumados com casos assim, saberão nos orientar!
E fomos parar na delegacia por volta das 2 da madrugada! Orientações recebidas, dados característicos do 'desaparecido', nossos telefones e endereço passados para a GCM. Não se tinha mais o que fazer além de esperar!
Um amigo do filho e seu pai estavam na rua, também, à procura! Nunca terei uma forma satisfatória e suficiente para agradecer! Enquanto nós, feito baratas tontas, não sabíamos o que fazer, eles foram a hospitais e a todos os lugares possíveis!
Madrugada ia alta, ninguém sabia dele, amigos dele me adicionaram em grupo de watsapp, amigas minhas passaram a madrugada orando e/ou me fazendo companhia on-line (isso, também, jamais terei como agradecer!), mães de amigos dele falando comigo, tentando me tranquilizar.
Amanheceu e, por volta das 7 horas, um contato e o 'desaparecido' apareceu! Ele havia dormido na casa de um amigo! Ele nem imaginava que estava desaparecido!
Graças aos céus o pesadelo chegava ao fim!

Essa foi a história do desaparecimento. Agora vou relatar como chegamos a isso, tentando resumir ao máximo, contando apenas o principal para que se compreenda!

Quinta-feira, 02.10, na saída do Senai o filho diz:
- Posso ir dormir na casa de um amigo amanhã depois do Moraes (escola onde cursa ensino médio à noite)? Nós temos um trabalho para fazer e ele falou para eu ir dormir lá para irmos para a casa de outro amigo no sábado cedinho. Como o outro amigo mora longe, ele acha melhor eu dormir lá para irmos junto.
- Pode sim, mas quero que me deixe o telefone e o nome de todos os amigos!
- Preciso de 10 reais para ajudar com os materiais.
- Depois vemos com seu pai.

E aí terminamos a conversa. O pai não tinha o dinheiro nesse dia. Não se tocou mais no assunto.
Na sexta-feira antes de sair para o Senai ele me falou que não voltaria para casa depois da aula. Ele e o grupo iriam ficar no Senai pegando orientação com os professores sobre o projeto e o pai do amigo iria levá-los para a outra escola onde cursam ensino médio.
Não falou mais nada sobre dormir fora. Despediu me lembrando que ia ficar direto no Senai e foi-se. Fo-se, inclusive, sem o agasalho, que esqueceu no encosto do sofá!

Aqui começa nosso primeiro problema de comunicação!

Eu havia dito que ele poderia ir, mas tinha que deixar nomes e telefones. Ele não deixou nada, saiu falando que ia direto de uma escola para a outra, não reforçou que ia dormir fora.
Para mim eles haviam desistido de fazer o trabalho nesse final de semana. Iam pegar orientação com os professores, afinal de contas não somos só nós que ficamos sem dinheiro na última semana do mês, neah?
Para mim ele iria para a aula da noite e voltaria para casa com o pai no horário de sempre, afinal ele não falou mais nada sobre dormir fora depois do pedido!

Para ele estava tudo certo. Ele havia pedido para dormir fora e havia dado o motivo. O pai não teve dinheiro para dar a ele, mas ele poderia dar o dinheiro depois (mas não me falou nada!).
Para ele eu sabia que ele ia dormir fora. Fim.

Segundo problema de comunicação:

- O celular toca e ele não atende. O celular descarrega por volta das 2 da madrugada. Das 22h30m quando demos falta dele até 2 da madrugada o telefone tocou normalmente, mas ele não atendeu. E não atendeu porque o telefone está apagando a tela e parando de tocar mesmo sem ter acabado a bateria, mas isso só fiquei sabendo no domingo quando ele chegou em casa.

- A irmã conseguiu o telefone e o nome do amigo com quem ele estava. Segundo o garoto que passou o telefone, esse amigo 'poderia' saber dele. E é aqui que entra minha dúvida sobre o tal corporativismo adolescente! De onde esse garoto tirou que justamente esse amigo onde o filho fora dormir na casa 'poderia' saber dele? Então...
- O telefone do amigo estava descarregado de fato. Incomunicável!

Terceiro problema de comunicação:

- 'Todos' os amigos estavam no Facebook, menos os que estavam com o filho 'desaparecido'.

A situação tomou proporções inimagináveis! Pessoas passaram a madrugada orando, me fazendo companhia, procurando por ele quando, na verdade, isso tudo poderia ter sido evitado se uma das etapas acima tivesse funcionado!
Se ele tivesse atendido ao celular às 22h30m nada disso teria acontecido, mas o celular estava quebrado e eu não sabia, embora ele tenha dito que me falou. Acontece que ele falou que o telefone dele estava 'bichado', mas eu não imaginava que esse 'bicho' fazia o telefone ficar incomunicável.
Se o amigo tivesse com o celular carregado e tivesse atendido antes das 23h40m, boa parte da confusão que já estava se formando teria parado por ali.

Eu falhei não tendo perguntado? Foi uma falha minha? Se eu tivesse perguntado, confirmado, pedido o telefone e o nome dos amigos antes de ele sair para a aula isso poderia ter sido evitado, também? De certo que sim, mas eu tinha em mente que crio os filhos para serem independentes e autônomos e para isso é preciso que tenham responsabilidade sobre si e sobre seus atos! Se eu deixei dormir fora e dei condições, ELE deveria ter me passado os dados que pedi. Na minha cabeça, se não passou os dados e não falou mais nada era porque não ia. Na minha cabeça isso era muito lógico, mas aprendi da pior forma que não é tão lógico assim quando se tem um filho que economiza palavras e está sempre achando que se comunicou o suficiente. Sim, porque já tivemos outras situações semelhantes de ele falar e achar que estava tudo certo quando não estava porque ele não falou o suficiente para que ficasse tudo certo, mas nada nunca na proporção desta vez!
Enfim, errei eu, errou ele. Erramos os dois por ficarmos, confortavelmente, na zona do achismo!

Então fica aí a dica para adolescentes, para pais, para todos em uma família: COMUNICAÇÃO é essencial. É preciso que todos se comuniquem de forma clara para que problemas como esse (e outros) sejam evitados!
Palavras são gratuitas se você não estiver enviando um telegrama ou não estiver fazendo uma tatuagem, então utilizem-nas sem medo, certifiquem-se de terem sido compreendidos e deixem o 'achismo' de lado!

Ah, sim, usem o celular para se comunicar! O aparelhinho também atende esta função, okay?

A vida hoje está muito tecnológica e as pessoas estão perdendo a habilidade de conversarem, de falarem, economizam palavras faladas como economizam palavras escritas nas redes. Tem redes sociais onde se pode usar apenas 100 palavras (ou seriam 100 letras?). A comunicação interpessoal está se perdendo, inclusive dentro de casa, entre familiares!
Quando eu era criança cresci ouvindo dizer que a televisão era o desagregador das famílias. Mal sabiam aqueles que falavam isso o que estaria por vir no futuro: um aparelhinho nas mãos de cada um, cada um em um canto da casa e mesmo quando todos estão juntos, ninguém está junto de fato, pois cada um tem os olhos e a atenção nos aparelhinhos. Até a televisão perdeu espaço e atenção porque pode-se até estar em frente ao aparelho com o dito ligado, mas os olhos e  a atenção estão nos aparelhinhos que ficam entre os dedos!

O 'desaparecimento' dele não foi uma traquinagem, não foi um ato de rebeldia adolescente, não foi uma forma de se auto-afirmar como um ser independente, não foi uma escapadinha para uma balada ou para namorar. Não foi! Foi 'apenas' falta de comunicação. Não houve intenção de sumir. Aliás, ele nem sabia que estava sumido!

Postei isso para que possamos, todos, pais e filhos, amigos, refletimos acerca de que tipo de relação queremos ter uns com os outros!

Grande abraço!

Cláudia





domingo, 24 de maio de 2015

"Deve parecer com o pai, né?"


Estamos à véspera do Dia Nacional da Adoção e, desde que a Taís nasceu, sempre faço post de aniversário dela em comemoração ao dia, porém hoje vou abordar um tema que incomoda muito os pais independente de os filhos serem adotivos ou biológicos.

Vamos tratar do 'com que ele ou ela se parece'.

Este assunto surgiu num grupo agora, porém é recorrente em grupos virtuais de apoio à adoção. Já vi muita gente postando e comentando a respeito e embora algumas pessoas não se incomodem, a pergunta, via de regra, causa desconforto uma vez que vem de pessoas totalmente estranhas ao convívio da família.

Quando estamos num lugar público como um parquinho ou um restaurante e uma mãe chega com uma criança pequena é fato que esta criança nos chama a atenção. Geralmente nos aproximamos, mexemos com a criança e se esta e a sua mãe forem receptivas, engrenamos numa conversa que vai do elogio à criança ao desejo de saber qual a idade e a curiosidade de saber com quem a criança se parece se for muito diferente da sua mãe.
Esse tipo de abordagem é básica e quase geral:

- Que lindinho! Quantos anos (ou meses) ele tem? Ele não se parece com você, né? Deve parecer com o pai...

E aí vem uma pergunta que sempre me fiz por ter passado por isso diversas vezes: que relevância tem PARA MIM com quem se parece o filho de uma desconhecida? Em quê eu ter esta informação acrescenta em minha vida?
Se não é relevante, se não é importante, porque perguntar? Se não vai acrescentar nada, porque expor as pessoas desta forma? Satisfazer uma curiosidade ingênua? Será tão ingênua, assim?
Que diferença fez na vida daquela mulher que me abordou no parquinho quando meus filhos eram pequenos querer saber porque minha filha caçula não se parecia nem comigo, nem com os irmãos? O que ela ganhou? O que ela levou de bom para ela? O que ganhou a agente de saúde que estava aprendendo a conhecer os setores em expor meus filhos perguntando TRÊS VEZES se eu tinha certeza que eles eram meus filhos e me olhando com recriminação?

É isso que quero trazer como reflexão: porque é tão importante, para nós, sabermos da intimidade de um desconhecido que vimos naquele momento e que, possivelmente, não veremos nunca mais?
O que importa, para nós, se o filho não se parece com a mãe? Se a mãe é negra e o filho é branco, se a mãe é branca e o filho é negro? Que relevância tem querer saber se o pai é branco ou se o pai é negro?

Questionar uma pessoa estranha sobre algo tão íntimo, na minha opinião, é falta de respeito e uma tremenda invasão. Ninguém é obrigado a dar satisfação de com quem se parece o filho, mas em sendo questionadas, elas se sentem na obrigação de dar uma resposta.

Esses questionamentos são para aquelas pessoas que perguntam, que se empolgam em não controlar a curiosidade, mas tem, também, aquelas que olham e te julgam sem falar nada. Elas não perguntam com quem seu filho se parece. Elas te julgam e te condenam sem dizer uma única palavra!
Essas são as piores. Elas nem disfarçam. Não perguntam para satisfazer sua curiosidade ou para eliminar seus pensamentos perversos.
Quem já passou por isso sabe muito bem do que falo.
Eu já fui olhada diversas vezes, quando com toda a minha família, por senhoras aparentemente distintas cujos olhares eram de 'essa vadia traiu o marido. Essa criança não é filha dele'. Os olhares circulam de mim para a caçula, da caçula para os irmãos, dos irmãos para a caçula de novo e dela para o pai e dele para mim. Dá quase para ouvir o pensamento que esse tipo de olhar provoca.
Essa situação é pior do que quando a pessoa te aborda, porque se quando a pessoa pergunta você sente que não tem que expor sua vida, ainda assim tem uma oportunidade de falar qualquer coisa que satisfaça a curiosidade ou desfaça a perversidade do pensamento que a levou a perguntar. Já os olhares são invasivos, mais invasivos que as perguntas, penetram sua alma e causam um mal-estar sem tamanho, afinal que direito tem uma pessoa de me julgar moralmente através da aparência da minha família?

Que direito NÓS todos temos de fazermos pré-julgamento da aparência da família das pessoas que nos são estranhas e que não fazem parte do nosso círculo de convivência? Que direito temos de fazer pré-julgamento sem conhecermos a história daquela família e que direito temos de invadir querendo saber algo que não nos interessa devido à falta de intimidade?

Fica aqui, apenas, uma reflexão para todos nós para que não julguemos as aparências porque não nos interessa, não nos é relevante saber com quem os fii duzotro se parecem e se não é relevante, que contenhamos nossa curiosidade ao perguntar e nossa perversidade ao julgar com o olhar.
Cada família tem sua história e isso só interessa a ela.
Que polpemos os filhos alheios de ouvirem perguntas que possam constrangê-los e que nossos filhos sejam polpados das mesmas perguntas.

O mundo é cheio de diversidade, de mistura de raças e de famílias formadas pela adoção em sua mais ampla diversidade de formação. Em todos os casos filhos podem ou não se parecer com os pais. E isso só interessa a cada família.


Grande abraço!

Cláudia