sábado, 22 de março de 2014

O que há no intervalo entre o desejar e o realizar!


Durante toda a minha vida virtual eu sempre dei meu depoimento dizendo isso que está escrito aqui


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Sempre falei que como filhos biológicos não vieram, partimos para a adoção sem fazer exames e sem tratamentos.
Isso realmente foi verdade!
Quando a gravidez não se efetivou no prazo determinado pelo médico decidimos não fazer tratamentos, exames, nada disso, afinal queríamos ser pais e não fazíamos questão de termos uma barriga, no entanto esse processo não se passa sem sofrimentos.

No post anterior a este eu falei que enlouqueci. E enlouqueci, mesmo!
Sorte minha que consegui detectar isso e consegui reverter por mim mesma a situação.

No intervalo entre desejar ser mãe e tornar-se mãe, tanto na maternidade biológica quanto na maternidade adotiva, este período é permeado de muitos sentimentos, muitos medos, muitos receios.
Quando a gente deseja muito ser mãe e planeja este filho, a gente sonha, idealiza, organiza e reorganiza a casa mentalmente, planeja um novo carro....ou ter um carro, a pintura da casa, o enxoval, talvez uma mudança de trabalho, pensa em creche, escolinha e tantas outras coisas que vêm junto com um filho.
Conforme o tempo vai passando e, mês a mês a vida vai te frustrando neste sonho, neste planejamento, muitos sentimentos precisam e são elaborados.

No meu caso a adoção não era opção SE eu não engravidasse. Adoção era plano de vida. Eu ia adotar gerando filhos ou não, mas mesmo assim diante do 'não' da vida, sentimentos afloram, tais como: frustração por não engravidar, sentimento de inferioridade em relação a outras mulheres, sentimento de uma vida inútil porque a gente nasce e cresce sendo criada para ser mãe.
A gente tem que elaborar esses sentimentos e não é fácil. Não é fácil lidar com frustrações!
Você vê as pessoas gerando de forma irresponsável filhos indesejados e é difícil entender o porquê de estar vivendo e convivendo com essa situação.

Mesmo desejando adotar eu também desejei engravidar e embora a gravidez não fosse algo imprescindível em minha vida, foi um plano, foi um projeto frustrado o qual tive que reelaborar, tive que viver o tal do luto que tanto dizem.
E eu vivi intensamente. Eu chorei, eu questionei Deus, até briguei com Ele algumas vezes, principalmente quando alguma desalmada jogava seu recém-nascido no rio perto da minha casa, ou jogava seus rebentos no lixo, largavam na igreja, matavam. Briguei com Deus muitas vezes, sim, mas nunca guardei revolta em meu ser.
Eu chorava, eu sofria, eu me rasgava por dentro de desespero muitas vezes, mas eu não tinha revolta.
Uma noite, logo depois do ocorrido com a história da banheira azul do post anterior, tive um atraso considerável, o mais longo de todos e na noite anterior ao dia que eu ia ao médico para fazer um BHCG, quando fui tomar banho estava lá meu 'não' novamente.
Esse não foi o pior 'não' de todos porque teve um que foi terrível por conta de um 'excelente' obstetra, mas foi o que senti intensamente na alma.
Nesta noite, ao ir deitar, peguei meu evangelho e, de joelhos...coisa que nunca havia feito...orei, orei, orei e, de coração aberto pedi: Senhor, me faz entender o porquê de tudo isso! Por caridade, me mostre porquê!

E nesta noite eu sonhei. Foi um sonho real, lindo, o qual me emociona até hoje quando lembro!
O lugar era calmo, silencioso, cheio de paz, tinha um gramado macio bem verde, árvores frondosas, um riacho onde corria uma água cristalina, à margem duas pedras grandes. Sentei em uma e um homem cujo rosto não pude ver ou não registrei sentou-se na outra e me falou o seguinte:
- minha irmã, na vida existem árvores que nascem para dar frutos e saciar a fome e existem árvores que nascem pra dar sombra e acolher. Nenhuma é mais importante do que a outra. Ambas se completam.

E então eu compreendi que eu era, sim, uma 'árvore que nasceu para dar sombra e acolher'.

Acordei agradecida a Deus pela resposta à minha oração e senti intima e fortemente em meu ser que eu estava no caminho certo: deveria voltar a trabalhar, me curar e ficar pronta para que, no tempo de Deus, meus filhos pudessem chegar.

E assim foi!
E assim hoje sou mãe de três pessoas que são os seres mais importantes da minha vida. Amo tanto que a alma até dói.
Depois que a primeira nasceu nunca mais senti desejo de tentar ter um filho biológico. Não sinto frustração por isso, nem mágoa com a vida.
Tudo foi como tinha que ser e eu sou grata a Deus e à vida por tudo de maravilhoso que operaram em minha vida e na vida da família que eu e meu marido conseguimos formar.

Isso tudo creio que só foi possível porque, mesmo diante do sofrimento, no intervalo entre o desejar e o realizar a maternidade nunca me faltou esperança e fé.


Que nunca nos falte esperança e fé em nenhuma circunstância na vida!

terça-feira, 18 de março de 2014

Um estado de loucura chamado 'desejo de ser mãe'.


Temos visto desde o início da novela Em Família a evolução do, digamos, estado de loucura da Juliana (Vanessa Gerbelli) motivado pelo desejo ardente de ser mãe.
Em entrevista à Ana Maria Braga a atriz fala em um estado de histeria.
Como não entendo de histeria e muito embora não entenda nada de doenças psiquiátricas, creio que o desejo de algo acalentado por muito tempo gere, sim, alguma doença psiquiátrica.

Como a maternidade é algo que ocorre de forma natural à maioria das mulheres, uma personagem como esta parece surreal, parece 'coisa de novela', parece historinha da cabeça do autor, mas posso afirmar que não é.
Vendo a personagem eu sinto pena. Pena não por ela não estar com a criança que ela pensa ser sua filha. Pena pela dor que ela me faz rememorar, reviver. Pena porque, embora eu saiba que é uma novela, uma história, aquela personagem que simboliza e representa muitas mulheres reais sofre. Ela sofre! E eu sei como é este sofrimento.
Desejar ter um filho ano após ano sem conseguir dói. Dói muito e por mais que se tente manter o otimismo, buscar alternativas, chega uma hora que a dor é tanta que a gente enlouquece. Sim! Enlouquece! Tudo passa a girar em torno da maternidade que para 'todo mundo' é algo natural e que para a gente é negado pela natureza.
Atrasos da menstruação por algum tempo são desejados, sonhados e quando ocorrem te levam do delírio à depressão quando, dias depois do atraso, a menstruação desce!
A cada menstruação que desce, desce com ela a esperança, o sonho, a maternidade.
Ela, a Juliana da novela, tem um marido que nunca a apoiou, que nunca deu valor para o sentimento em relação à maternidade, mas mesmo quando se tem marido companheiro isso tudo é muito difícil.

Eu casei desejando ser mãe. Aliás, eu desejava ser mãe desde que me conheço por gente. A lembrança mais remota que tenho disso é aos 8 anos, eu em frente ao espelho vestida com uma camisola larga imaginando como seria quando eu fosse adulta e tivesse barrigão com nenê dentro.
Quando eu me casei nossos planos eram de engravidar no primeiro ano de casados e eu sonhava voltar da lua-de-mel grávida o que, lógico, não aconteceu!
O tempo foi passando, 'todo mundo' à minha volta engravidava, tinha filhos, e comigo nada!
Pessoas que casaram depois de mim tiveram um filho, depois outro, pessoas que nem desejavam ter filhos engravidavam e comigo não acontecia nada!
Chega uma hora que umas pessoas começam a falar que você só fala nisso, que está obcecada. Outras pessoas se afastam.
E elas têm razão: a gente só fala nisso, só pensa nisso, dorme e acorda pensando nisso. E chora! A cada gravidez de alguma conhecida, amiga, vizinha a gente chora! Chora não porque elas ficaram grávidas, mas sim porque a gente não fica! Chora de pena de si mesma. Chora de raiva. Chora de desespero. Chora e até questiona Deus com um: porque para elas é tão fácil e para mim parece impossível?

Eu enlouqueci! Sim...enlouqueci.
Não cheguei ao estágio da Juliana de sonhar em matar alguém para ter o filho comigo, nem fiz nada nunca para tirar filho de ninguém por mais que eu achasse que esse alguém não tinha condições de ser mãe.
Não. Eu não fiquei como ela, mas eu fui muitas vezes à igreja que tinha perto de casa depois que meu marido saiu para trabalhar para ver se tinham deixado algum bebê lá, embaixo de algum banco. Isso porque nesta igreja sempre eram encontrados bebês abandonados na madrugada. Cheguei a ir em dias seguidos, praticamente todos os dias, e no dia que eu não fui deixavam algum bebê. E eu sofria a dor de um aborto quando a notícia chegava. Doía demais 'não ter ido no dia certo'.
Eu sonhava que deixavam um bebê na porta da minha casa. Sonhava que encontrava bebê em caixa na rua. E eu andava atenta procurando bebê porque eu sabia que sempre alguém 'perdia' um bebê numa sacola ou numa caixa média na rua.
E, de repente, 'todas' as lojas do shopping que ficava atrás da minha casa e por onde eu passava para pagar contas e fazer compras eram lojas de roupas e acessórios para bebês, 'todas' as mulheres que andavam na rua estavam grávidas. Eu não só falava o tempo inteiro sobre isso, como só via isso o tempo inteiro, também. Podia ter uma única grávida na multidão e meus olhos a encontravam!
E vou falar: essa é uma dor solitária! Ninguém entende! Aos poucos você sente que está chata, irritadiça, alterada. Sente que a convivência dos outros, das 'pessoas normais' com você é desagradável.
Eu não fiquei como a Juliana porque eu me dei conta que estava doente. Um dia demorei a dormir porque dormir mal passou a ser rotina e quando acordei eu me dei conta que naquele momento eu não tinha a menor condição nem de engravidar, nem de adotar. Eu simplesmente não tinha condições de ter uma criança comigo.
Isso aconteceu porque era dia de pagamento de contas, aluguel e compras, eu ia atravessando por dentro do shopping para chegar ao banco, imobiliária e mercado e, de repente, passa por mim no sentido contrário uma senhora, a qual lembro a fisionomia até hoje, com uma sacola das lojas Americanas portando uma banheira azul. Assim que vi a banheira na sacola tive um negócio. Não sei explicar o que eu senti, mas eu não via mais nada à minha frente, apagou tudo da memória, eu não sabia o que estava fazendo naquele lugar e voltei para casa, fechei a porta, sentei no tapete encostada na porta fechada e chorei. Chorei sem me dar conta de quanto tempo fiquei lá, daquele jeito. Parei quando a campainha tocou e eu vi que já tinha anoitecido. A vizinha da casa de baixo ouviu o choro quando entrou chegando do trabalho e tocou para saber se estava tudo bem.
Esse foi o pico da minha loucura! Como falei, nesta noite dormi mal e no dia seguinte me dei conta que eu não tinha equilíbrio suficiente para gerar e nem de cuidar de uma criança e decidi mudar tudo, voltar a trabalhar, me equilibrar para poder, um dia, ser mãe.

Logo voltei a trabalhar, mas o equilíbrio demorou a chegar. Por muito tempo eu andava, ainda, na rua com a esperança de encontrar uma caixa com um bebê dentro.
Um dia, logo que voltei a trabalhar, uma determinada manhã em que cheguei bem antes do horário determinei que neste dia sairia no meu horário certinho. Eu sempre ficava depois do horário, mas naquele dia eu queira sair no horário certo. Estava, já, arrumando a mesa quando uma colega pediu ajuda e eu atrasei 15 minutos para sair. No caminho para o metrô vejo um tumulto num dos cruzamentos, paro, pergunto para um vendedor de frutas o que tinha acontecido porque eu não vi nenhum vestígio de acidente no local e ele falou: ah, moça, a polícia acabou de sair daqui. Um carro parou aqui tem uma meia hora, se tiver isso, e deixou uma caixa junto com as caixas vazias encostadas no poste. Começamos a ouvir um barulho estranho na caixa e tinha dois bebês, acho que gêmeos, porque eram muito parecidos. A polícia acabou de levar a caixa com as crianças.
E nesse dia eu pirei porque não saí no meu horário.

O trabalho e o tempo ajudaram muito. Eu me curei, me tornei mãe, mas quando vejo esta novela tudo, toda a dor, todos os sentimentos voltam e eu sei que existem milhares de Julianas e de Cláudias por aí.
Não sei o que vai acontecer com ela, a personagem, mas posso dizer que isso tudo passa, basta ter vontade de melhorar para ser a melhor mãe que se puder ser!