quinta-feira, 18 de setembro de 2014

MEU filho, MINHA filha! São nossos? Temos certificado de propriedade?


Gente, estou participando de um debate...se é que se pode assim dizer...num post a respeito de uma filha adotiva à procura de sua mãe biológica e posso afirmar que os comentários são os mais variados. Alguns duros, alguns muito duros, alguns nem tanto assim, então estava aqui lavando minha louça, colocando minha roupa para lavar porque preciso da água da máquina para limpar o chão - racionamento e falta de água, né, gentchy - e comecei a refletir a respeito.

Em todas as religiões cristãs se diz que somos todos filhos de Deus, portanto irmãos. Isso inclui os filhos, certo?
Todo mundo compartilha e acha lindo o poema Definição de Filho do José Saramago que fala que filhos são empréstimos de Deus. Okay?
Muita gente diz...eu já ouvi muito e concordo 1000% (não escrevi errado. É mil, mesmo!) que os pais devem criar os filhos para o mundo.

Oras, então porque cargas d'água é tão difícil de se aceitar que um filho adotivo queira, precise ou deseje encontrar sua família biológica para conhecer seu passado, ou saber com quem se parece, ou seja lá que motivo for que o faça ter essa vontade?
Filhos biológicos sonham em ir para o exterior estudar e alguns nunca mais voltam. Foram ingratos com os pais? Foram movidos por falta de amor ou apenas, veja bem, APENAS, buscaram o caminho que sonharam?
Filhos casam todos os dias e vão embora. São ingratos por deixarem a casa dos pais? Ah, isso é diferente, faz parte da vida!
E ir morar fora não faz parte da vida daqueles filhos que foram?
E irem morar sozinhos porque não querem mais ficar morando com os pais depois de certa idade também faz parte da vida ou seria ingratidão?
Ah, mas filho biológico é biológico. Tem a minha origem. O kay, mas o filho biológico não busca outras necessidades, não acalenta em sua alma outros desejos? Você quer que ele seja médico, mas ele quer ser piloto de avião. Você sonha que ela seja dentista, mas ela quer ser designer de bolo ou personal trainer. Você sonha que ele seja um engenheiro, mas ele quer ser professor de filosofia!
Não atender aos desejos e anseios dos pais é ser ingrato?
Porque é que alguns aspirantes a pais adotivos ou mesmo os que já são pais adotivos anseiam  que o filho esqueça e apague de vez o seu passado e a existência de uma família biológica?
Porque hoje em dia se propaga tanto a importância de contar a verdade, que o filho precisa saber a verdade sobre ser adotivo, mas não se aceita que o filho possa vir a ter o desejo de conhecer a família de origem?
Porque o desejo de buscar a família de origem é considerada ingratidão se quando adotamos não estamos fazendo caridade? Não é isso que se fala tanto nas redes sociais, também? Adotar não é caridade? Se não é, então porque o filho desejar conhecer a biológica torna-se ingratidão?
De onde se tira que filho que quer conhecer sua origem não ama ou não valoriza 'a família que a criou'. Gente, filhos adotivos comentam isso: 'tem que valorizar e amar a família que te criou'.
Aqui eu tenho uma família. Meus filhos são meus filhos. Eu e meu marido não somos 'a família que os criou'. Eu e meu marido, junto com eles, formamos uma família. E só!
Porque os filhos que desejam procurar suas famílias de origem são tão duramente atacados (inclusive por outros filhos adotivos!) se se entende que suas famílias não fizeram caridade?

Muita coisa para refletir, né?

Eu tenho comigo que
1. O amor que se constrói ao longo da vida não se apaga apenas porque o filho conhece sua mãe biológica, sua genitora ou seja lá o nome que queria dar.
2. A família não se desagrega porque um  filho, ou dois, ou três desejou conhecer sua(s) família(s) de origem.
3. Desejar buscar a família de origem não tem nada a ver com ingratidão ou falta de amor, assim como ao filho biológico, ir estudar no exterior e decidir ficar por lá também não tem.

Aí eu pergunto: qual é o objetivo da adoção? É dar criança para uma família ou é dar uma família para uma criança?
Se você respondeu dar uma família para uma criança, você acertou!
Ninguém procura uma criança que seja adequada para uma família, mas sim uma família que seja adequada para uma criança, ou duas, ou três.
Sendo assim é a família que é da criança e não a criança da família!

Vamos pensar e refletir, gente!
Nós adotamos para sermos pais, mas nossos filhos não são nossos. Nossos filhos são empréstimos de Deus, Ele nos confia esses pequenos seres para serem amados, criados da melhor forma possível, dentro de valores e princípios, mas eles não são nossos. São do mundo, são da vida e têm, sim, um passado que precisa ser respeitado e que, em surgindo curiosidade ou desejo de ser conhecido, precisa ser apoiado.
Amor e gratidão não têm nada a ver com isso. É pessoal, é desejo de identificação, é vontade de perguntar 'porque você me deu' olhando nos olhos.
O filho vai conhecer alguém por quem vai desejar constituir família, vai casar e vai embora de casa viver sua vida. O mesmo vai acontecer com a filha.
Com a mãe biológica isso nunca vai acontecer. Ela não é ameaça para um amor construído. Ela pode ser algo que falta para que o filho(a) faça a conexão entre o passado e o presente para ter um futuro mais feliz, mais pleno, mais livre!
E com amor e sabedoria pode-se somar ao invés de dividir.

Ah, sim, a teoria das maltratadoras, dos abusadores não cabe neste contexto uma vez que quando nossos filhos decidirem por conhecer esta origem (se decidirem!) já terão tido uma vida de amor, proteção e terão idade o suficiente para não sofrerem, mais, nenhum tipo de situação relacionada ao passado.
Ainda que tenha ocorrido algo assim, se ele quiser ir atrás para saber o que ficou lá, é um direito dele.

Ah, não quero que meu filho sofra com esta busca. O que ele poderá encontrar?
Naturalmente nenhum pai, nenhuma mãe que ame seus filhos vai querer que eles sofram, mas deixa eu contar uma novidade: eles sofrem! Siiiim, eles sofrem! Sofrer faz parte da vida! Sofrem por amor não correspondido, sofrem por não conseguirem o emprego que sonham, sofrem por não poderem ir a um tal show que tanto sonharam por algum motivo qualquer e podem sofrer desilusões, também!
É para isso que estamos ao lado deles: para sermos ombros, para acolhermos, ampararmos, secarmos as lágrimas com o nosso amor toda vez que eles sofrerem, seja por que motivo for, porque impedir que sofram, aaaah...isso não nos compete!

Cláudia

4 comentários:

  1. Puxa Clau, amei seu texto!!! Concordo 1000% com voce !! E quando minhas filhas quiserem conhecer a familia biologica quero estar ao lado delas! Isso faz parte da historia delas e por mais que as amemos não podemos apagar isso! é importante pra elas!!!

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    1. Não tem como apagar, né, Priscila?
      Quando a gente entende que é importante lidar sempre com a verdade, é preciso compreender que o risco existe e que é um direito deles e isso não tem nada a ver com o amor que sentem por nós.

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  2. Olá, Cláudia!!!
    Gostei muitíssimo do seu texto!!!
    Concordo plenamente com você!!!
    Os filhos e filhas são de Deus, eles nascem para junto conosco evoluirem, e um dia já como espíritos iluminados, nós todos retornaremos a Deus.
    Se um filho ou filha de coração quer conhecer sua família biológica, porque não? Além de filhos, são também seres humanos e individuos independentes,com opinões próprias, que aprendem com erros e acertos, só nos resta respeitar a sua decisão e apoia-lo na sua alegria ou tristeza.
    Boa semana!!!
    Beijokas, Rê!!!

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  3. Oi Clau, faia tempo que eu não passava por aqui, adorei o texto e concordo com ele, bj

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