sábado, 13 de setembro de 2014

Pecados maternos: primeira visita ao pediatra!


Passeando pela net hoje li um texto que me remeteu à lembrança do meu primeiro pecado materno e, consequentemente, minha primeira culpa. Podemos dizer que foi o dia em que estreei nos insondáveis caminhos da culpa materna.
Vou relatar este episódio que hoje é engraçado, mas que quando aconteceu me deixou arrasada. rss

Mãe de Primeira Viagem

Quando a gente tem o primeiro filho tudo é novidade. Nos primeiros dias, até nos primeiros meses, tudo é vivido pela primeira vez.
Estava eu com um bebê de 15 dias quando fomos pela primeira vez ao pediatra.
O pediatra foi escolhido a dedo. Tinha que ser o mesmo que cuidou do meu irmão. Não poderia ser outro, afinal como eu poderia confiar em um médico que eu nunca vi?
Já fazia muito tempo que ele tinha deixado de ser pediatra do meu irmão...rss...e a lembrança que eu tinha dele era de um homem afável, sorridente e muito agradável com crianças. Em minhas memórias não figurava a lembrança de como ele era com as mães.

Dia da primeira consulta:

Eu queria impressionar o médico. Queria que ele me admirasse como mãe, que ele visse como o meu bebê era bem cuidado. Acordei ainda de madrugada, antes das 6h da manhã e separei a roupinha que ela iria vestir:
- 01 par de meias, body, mijão com pé, macacão, casaquinho de malha e um enfeite para os cabelos porque ela tinha muito cabelo. Devo dizer que tudo isso, tuuuuuudooooo era branco.
Imagine só que coisa mais linda começar a despir o bebê todo vestido de branco na frente do médico. Uiiiii...dava até emoção! Ozói ficavam marejados de tanta emoção!
E tira o bebê do berço, dá banho, veste tuuuudo aquilo ali de cima, dá mamá, espera arrotar, enfeita o cabelo da criança com o enfeitinho de velcro que não parava de jeito nenhum e que só servia para estressar. Isso tudo feito, pega-se o bebê, joga-se um chale de lã branco por cima e sai-se de casa com o peito cheio de felicidade por estar indo ao pe di a tra. Que sonho!
Há algo de errado nisso, tirando o enfeite de cabelos?
Eu diria que não se ela tivesse nascido nos meses de julho ou agosto, porém ela nasceu em meados de janeiro. Ooooh.
Para mim esse era o jeito certo de se vestir um bebê. Eu já tinha 27 anos e todos, absolutamente todos os bebês que eu conheci eram vestidos assim. Digamos que no lugar do body se utilizava o pagão que eram duas peças de cambraia ou de malha: uma sem mangas que amarrava nas costas e uma de mangas compridas que se amarrava na frente e a mãe tinha que ficar virando o bebê de barriga para baixo e de barriga para cima como se fazendo coquetel em coqueteleira. Como as duas peças ficavam abertas era necessário usar fita crepe Cremmer, que geralmente era colorida. (muitos risos)
 Nem sei se pagão ainda existe! Só sei que eu detestava e desejei dar abraços eternos em quem criou os bodys. rss

A consulta:

Sala de espera, bebê ficando impaciente, procurando peito, a mãe tira a mamadeira da bolsa e assim que o bebê começa a mamar a secretária anuncia que é a nossa vez.
A mãe toda boba entra no consultório dando a mamadeira para o bebê e, adentrando a sala, ainda teve tempo de ver um sorriso no rosto do médico antes que este fechasse a cara e perguntasse rispidamente:
- Porque é que essa criança está tomando mamadeira?
Não teve bom dia, não teve um prazer, sejam bem vindos, pois o papai estava junto. Nada! A primeira frase que ouvi já foi uma bronca.
Bochechas vermelhas, respondi que os peitos com leite estavam há alguns quilômetros de nós e por isso ela estava tomando mamadeira. Com isso ele sorriu novamente, apontou a cadeira e falou 'sentem-se por favor' de forma amigável para meu alívio, uma vez que já estava com vontade de sair correndo dali.
Alguns longos minutos conversando para que ele conhecesse melhor o meu bebê, chega o tão esperado momento 'mãe perfeita' de tirar as roupas na mesa de exame. "Ele achou ruim a mamadeira, mas agora vai ver como eu cuido muito bem dela" pensava eu inocentemente!
Deita o bebê sob os olhos atentos do pediatra. Tira o casaquinho. Abre o macacão e, conforme vai tirando a peça o pediatra olha indignado e pergunta, em sua forma originalmente ríspida:
- porque esta criança está com macacão e com outra roupa completa por baixo, mãe?
E aquela onda de calor e vontade de sumir invadiu novamente a mãe:
- porque é assim que se veste bebês recém-nascidos!
- quem disse isso, mãe?
- eu sempre vi os bebês serem vestidos assim...
- bebês que nascem no inverno, suponho?
- não, doutor! Qualquer bebê, em qualquer época do ano.
Nessa hora eu só sentia vontade de chorar, mas fui respondendo e tirando a roupa da criança. Tira o mijão e...aaah, estavam lá as meias! Ah, as meias! Que ódio que fiquei delas e de mim naquele momento! Vontade de engolir aquelas malditas meias!
- Eu não acredito que ela estava usando 3 meias!
- É um par de meias, só, doutor...
- Não senhora! O macacão tem pés, a calça tem pés e isso por si já constitui 2 meias, uma por cima da outra. Qual a necessidade de tanto agasalho nos pés dela?
- ...
Criança só de fraldas, suada, grudenta e cheia de brotoejas. Naturalmente veio mais bronca:
- Mãe, toda essa alergia dela é por causa do suor. Isso coça, incomoda e ela está assim graças a esse monte de roupas que você coloca nela!
E eis que veio a primeira culpa materna: eu fui a culpada de ela estar cheia de brotoejas! Não movia um músculo da face deixando permanecer apenas um sorriso pálido, mas mentalmente: buááááááááááaáááááá

Terminado o exame clínico nela ele me ensinou como dosar as roupas já no momento de vestí-la, mas eu não a vestia taaaanto assim em casa. Só quis causar boa impressão. Ainda assim as dicas foram valiosíssimas levando em conta que ela era muito calorenta.
Saí de lá desejando nunca ter ido, arrependida de não ter procurado um médico desconhecido porque, né, vai que ele não brigasse daquele jeito, que fosse mais bonzinho com mães de primeira viagem.

Esta foi a primeira consulta pediátrica da minha primeira filha. Foi difícil, foi traumática. Chorei dias toda vez que lembrava das broncas dele, da voz ríspida falando com energia.
Fiquei traumatizada de colocar roupas nela, também. Toda vez que o tempo esfriava e eu sentia que era necessário vestir mais, colocar pagão e body por baixo do macacão meus braços até doíam, meu coração ficava disparado e eu ficava atenta se os cabelos dela ficavam molhados de suor. Às primeiras gotas de suor já corria despi-la um pouco.
Fiquei em dúvida se tentava outro pediatra ou se continuava com ele, mas a confiança falou mais alto e decidi ir mais uma vez para sentir como seria. Fui na segunda consulta e foi maravilhoso!
Ele era um excelente médico, orientava tudo direitinho, me passava confiança e depois eu entendi que ele não adulava mãe. Ele queria que a mãe zelasse direito pelo bem estar da criança.
Ele era o pediatra e visava a criança, não a mãe, mas em se fazendo tudo direitinho ele era educado e muito agradável com a mãe também! (risos)
Vi muitas mães de primeira viagem saírem da sala dele chorando, mas eu aguentei firme. Deixei para chorar em casa. (risos)

E assim é a vida materna: a gente comete pequenos pecados ao longo da criação dos filhos, nos sentimos culpadas e no fim acaba dando tudo certo.

Beijos,

Cláudia

Um comentário:

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