sábado, 22 de junho de 2013

Blogagem Coletiva #protestomaterno


Eu nasci no início da ditadura militar no Brasil. Cresci ouvindo que não se podia falar do governo na rua, principalmente se fosse para fazer críticas.
Lembro-me vagamente de que na escola em que eu estudava sempre tinha a presença de policiais militares. Eles andavam pelas dependências da escola e algumas vezes ficavam no fundo da sala de aula. Embora não fossem simpáticos e amigáveis como os nossos valorosos policiais militares que atuam no projeto PROERD, eu até que os admirava.
Naquele tempo, na infância, eu não tinha muita noção do que aquilo significava.
Cresci com a nata da música popular brasileira tocando nas rádios! Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento entre outros. Sei até hoje a letra inteira da música "Para não dizer que não falei das flores" do Geraldo Vandré. Na adolescência os rocks de Legião Urbana eram o must e eu cantei Geração Coca-Cola e Será tanto, mas tanto, que sei as letras até hoje, também!
Eu acompanhei o povo indo para as ruas exigir Diretas Já.
Acompanhei a felicidade que foi a primeira eleição direta para presidente e vi jovens de cara pintada exigindo o impeachment do primeiro presidente eleito pelo povo!
Sou de uma geração que viu muita coisa, mas que foi criada para temer. 
Confesso que não fui politizada na infância e na adolescência. Só fui tomar conhecimento que as músicas que eu ouvia e que adorava eram protestos contra a ditadura no cursinho e na faculdade nas aulas de História do Brasil.
Foi nessa época que fiquei sabendo que "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos" que o Roberto Carlos compôs não era uma música romântica, mas sim uma forma de homenagear Caetano Veloso que estava exilado em Londres.
Cresci ouvindo falar nos exilados, nos desaparecidos. Fiquei fã do Marcelo Rubens Paiva, li seus livros só por saber que ele foi uma vítima da ditadura, que foi uma criança criada sem pai graças ao período negro da história do nosso país.
Sou a geração da ditadura. A geração que não teve uma formação política de base desde a infância, porém eu gostava de política. A política me atraía. Aos 20 anos eu era PT. Fui PT de usar botons e distribuir panfletos. Fui  PT de votar no Lula em todas as eleições. Sempre acreditei que uma política socialista poderia melhorar o país e mesmo hoje eu ainda acredito nisso, porém não acredito mais nas pessoas que dizem ter ideias socialistas.
Já faz muitos anos que eu vejo tanta coisa errada neste país, no meu estado e na minha cidade e eu nunca me conformei com o conformismo do brasileiro.
Como mãe eu queria, eu desejava ardentemente que o povo se manifestasse, que saísse às ruas, que exigisse dos governantes novas posturas, novas atitudes. Eu sempre tive comigo que o povo tem poder, mas que o povo do Brasil não sabe disso ainda. Ou não sabia, né?
Eu sonhava com o povo nas ruas porque eu acreditava que só assim os meus filhos, os meus sobrinhos, os filhos dos meus amigos, todas as crianças e adolescentes desta nova geração poderiam ter um futuro melhor.
Hoje vejo orgulhosa todo esse movimento. Jovens com a cara pintada, com camisetas brancas, com cartazes invadindo as ruas e exigindo um país melhor, exigindo o fim da corrupção, exigindo educação e saúde de qualidade! Jovens estes que são apoiados pelos jovens de 1968, a geração que foi às ruas e não teve medo da repressão!
imagem retirada do Facebook
Hoje estou feliz, emocionada porque pude constatar que embora não seja tão politizada como gostaria, que eu estava certa quanto ao poder do povo.
Estou feliz porque nosso povo acordou e as minhas esperanças de um futuro melhor se renovaram!
Ver os jovens que todo mundo diz que são alienados e que só pensam em Facebook sairem às ruas, ver seus olhos brilhando nos manifestos é gratificante, porém uma outra coisa me deixou ainda mais feliz: foi ver crianças iniciando um processo de politização. 

imagem retirada do google
Ler que uma criança de 5 anos assiste aos vândalos fazendo quebra-quebra com a cabeça coberta e diz: 'Mas eles são bandidos. Nossa agora até bandido quer governar!' me faz ter esperança não que essa geração que está nas ruas fará um país melhor. Estes estão mudando o presente, mudando o rumo da história do nosso país, mas quem vai  mesmo fazer um futuro melhor são estas crianças que começam a se politizar tão pequenas!
Agora eu não tenho esperança de um futuro melhor para os meus filhos. Tenho esperança que eles sejam o futuro melhor que a gente sonha um dia, pois estas crianças estão crescendo podendo pensar, podendo acompanhar e podendo participar da história ativamente. 
Hoje eu agradeço essa meninada linda que está reformando o país, que acordou para lutar por um país melhor para eles mesmos e para as futuras gerações! É com eles que estas crianças de 5, 6 7 anos estão aprendendo o que é ser brasileiro, o que é ser o futuro!
Que esta juventude continue com toda a garra para prosseguir com a reforma do nosso país!


Cláudia

3 comentários:

  1. Seu texto ficou excelente. Adorei.
    A Ditadura deixou uma herança de medo, dor e repúdio.
    Que possamos construir um mundo melhor para nossas crianças.
    Beijão.

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  2. Estive esses dias lendo muitas coisas a respeito das manifestações na internet, principalmente no Facebook, e ando a matutar sobre o assunto.
    Assim como você, também nasci durante a ditadura, acompanhei as "Diretas Já", o movimento dos "Caras Pintadas", também não sou tão politizada quanto gostaria de ser, já fui PT, votei no Lula, enfim...eu e você fazemos parte da mesma geração. Vendo toda essa movimentação em prol de mais educação, de saúde com qualidade, do fim da política corrupta também fico feliz e com um sopro de esperança em um país melhor.
    Vivi 6 anos fora do Brasil e voltei achando que iria encontrar um país um pouco mais evoluído, a mídia lá fora divulga um Brasil mais cheio de oportunidades, um país em desenvolvimento. Quando cheguei vi que pouco mudou.
    Acho todo esse protesto extremamente válido e mais do que nunca é hora da nossa gente acordar.
    Mas, por outro lado, fico com receio que tudo isso não passe de um "oba-oba". Será que de fato nossa gente está acordando? Falo isso não em relação a mim, a você, aos nossos amigos, que são pessoas abençoadas neste país por terem conhecimento e educação, por serem "seres pensantes", mas coloco esta questão em relação aos milhares de jovens sem oportunidades, sem educação, sem conhecimento, que saíram às ruas pelo "oba-oba" de participar do protesto como se fossem a um carnaval, apenas para tirar fotos e postar em redes sociais. Os nossos jovens são o futuro do nosso país e se eles não tiverem a plena consciência do que querem como "futuro" pouco será modificado.
    Esses dias ando ajudando meus irmãos, que são pré-adolescente, a estudarem e observei, tristemente, que as escolas, sejam públicas ou particulares, não ensinam aos jovens a "pensarem". Então, se não conseguem raciocinar sobre matérias básicas como português, matemática, história, quem dirá lá na frente sobre questões "macro" com relação a política. Ficam no fim das contas uns "maria vai com as outras".
    E isso é mais comum, infelizmente, nas classes sociais menos favorecidas, onde as famílias se beneficiam dessa política assistencialista, e enquanto for assim será complicado haver uma mudança. A nossa maior arma está no VOTO e uma minoria é consciente do poder que tem nas mãos. Enquanto for assim a nossa tão sonhada Reforma Política ficará muito distante da nossa realidade.
    Meu discurso pode até parecer um pouco pessimista, mas acho que devemos deixar de lado o "romantismo" das manifestações e atentar para fatos reais. Esses protestos não podem ser apenas ações pontuais, tem que ser ações constantes do povo brasileiro para que o nosso país evolua, cresça como uma Nação de ORDEM e PROGRESSO.
    A nossa chance de mudança está nas urnas. Não adianta ir às ruas, erguer cartazes de protesto, brigar por seus direitos e na hora de votar permitir que a mesma corja de políticos permaneçam no governo.

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  3. Hummm, como sempre, bom demais seu texto.

    Eu não curto política, tive um professor excelente, Ademar, ele me ensinou sobre os partidos, sobre os regimes, e tudo mais, porém, não é dos meus assuntos favoritos não. T´, talvez eu não devesse ser assim, tão honesta, mas é a mais pura verdade. Minha mãe sofreu na ditadura. E eu, muito questionadora, cresci com medo de me apegar à política e um dia, sofrer como ela. Enfim... não gosto.

    Porém, também tinha a noção do tamanho do poder do povo unido por razões em comum, e que, quando quer e mantem o foco consegue proezas sim.

    Quero acreditar também que o Brasil possa mesmo se tornar um país melhor, quero acreditar que pessoas refletirão e mudarão hábitos, e que o governo aprenda também...

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