domingo, 24 de junho de 2012

Quebrar Paradigmas


Aprendi há alguns anos no hospital onde trabalhei que uma das artes do bem viver é a de sermos capazes de quebrar paradigmas.
Não é fácil. É uma arte que exige coragem para encarar seus conceitos, reconhecer que eles podem não ser tão bons como você crê ou imagina, desconstruí-los e abrir-se para novos conceitos.
Isso exige tempo, pode te desgastar física e emocionalmente, mas se você não vive bem com os conceitos adquiridos e consegue mudá-los, descobre que mudar é bom e vale à pena.
Quem tem da minha idade para mais, acima dos 40, deve lembrar que as pessoas mais velhas da nossa época de infância diziam: 'eu fui criado assim e vou morrer assim', ou 'eu aprendi assim e sempre fiz assim, não vou mudar agora', ou ainda 'meus avós criaram meus pais assim, meus pais me criaram assim e eu crio meus filhos assim porque é assim que as coisas funcionam'.
E olha que não estou falando de pessoas idosas! Eram pessoas com 40, 45, 50 anos de idade!
Neste conceito de vida só existiam duas formas de viver: a delas e a errada. Tudo tinha que funcionar do jeito delas ou estava errado não importando se o jeito delas fazia sofrer a si próprias e/ou aos que as cercavam.
Desde menina eu fui observadora desse tipo de comportamento. Eu via as pessoas falarem desta forma e pensava: mas não pode ser que só o jeito dela seja o certo! Vai daí que comecei a 'colecionar' comportamentos que eu não queria para mim quando tivesse a idade daquelas pessoas, dentre elas a minha mãe!
Minha mãe sempre foi excelente: cuidadosa, atenciosa, dava conta de tudo da casa e de nós, nos ensinou princípios que carregamos até hoje e que passamos para nossos filhos, mas ela era assim: as coisas só tinham dois jeitos de ser: o jeito dela e o jeito errado. Isso para tudo, até mesmo para varrer a casa.
Uma coisa que me incomodava deveras era quando ela mudava os móveis de lugar. Tudo bem, tem gente que adora mudar os móveis com frequência e isso não é errado. O Feng-Shui fala que a mudança dos móveis faz circular as energias na casa e tals e isso eu sei hoje, mas naquela época eu gostava da minha cama em um determinado lugar, mas cada semana minha cama estava numa posição diferente.
Era muito ruim chegar em casa cansada de um dia de trabalho e estudo, entrar no quarto e ver minha cama em outra posição. Eu levava dias para me adaptar, dormia mal e quando eu começava a me adaptar ela mudava a cama de lugar novamente.
Nunca fui muito de contestar. Uma vez eu pedi para ela não mexer com a minha cama e ela falou algo do tipo: a casa é minha e eu faço dela o que bem entendo. Quando você tiver a sua, coloca a cama onde quiser.
Diante de tal argumento, falar o quê? Ela tinha razão, muito embora eu não concordasse. Ela utilizava-se desse argumento sempre que a gente tentava sugerir ou opinar sobre algo que ela houvesse mudado de lugar. Muitas vezes ela até pedia opinião, mas na hora da decisão prevalecia sempre a escolha dela.
No meu íntimo aquilo não era justo, afinal éramos uma família. Numa família a casa não seria de todos?
E aí, como toda boa filha, nunca a questionei mas dizia de mim para mim: quando tiver a minha casa ela será da família, todos opinarão, todos participarão de tudo.
Há quase 20 anos eu tenho a minha casa e coloquei em prática a minha teoria: casa de todo mundo, mas infelizmente não deu muito certo.
Com isso de a casa ser de todo mundo, tudo virou de todo mundo e eu perdi minha individualidade.
Não sei se não soube dosar o 'tudo de todo mundo', mas fui invadida, perdi meus apetrechos de unha, meus batons viraram terra de ninguém, não venço comprar brincos e meu guardarroupas vive uma bagunça sem tamanho, tudo revirado.
Tenho duas filhas e tudo que elas não encontram nas coisas delas, elas vêm nas minhas e fato é que isso me cansou e eu comecei a rever meu conceito e compará-lo ao conceito da minha mãe.
Juntou-se a isso o fato de que fui criada ouvindo que numa família todos precisam colaborar.
Esse conceito eu adotei porque creio que assim deva ser, tendo em vista que que a família é a primeira sociedade em que o ser vive e deve se desenvolver amplamente para a macrocélula. É na família que deve desenvolver-se a solidariedade, o companheirismo, a caridade, a honestidade, o respeito e tudo o mais que seja tão importante no convívio social mais amplo.
Em minha família de origem todos ajudavam com a casa. Existia o dia da limpeza, fazíamos mutirão, ajudávamos minha mãe e no final do dia a recompensa era todo mundo cansado e uma casa deliciosamente limpa e cheirosa. Isso eu quis incorporar na minha família, mas as coisas não funcionaram como eu desejava ou como eu pré-concebia que deveriam ser e eu comecei a me desgastar tentando colocar em prática conceitos que eu desejava que funcionassem porque eu creio que sejam os melhores.
Existe colaboração? Existe, mas não da forma como eu entendia que deveria ser.
Na verdade eu quis excluir o que para mim não serviu na minha criação e quis incorporar o que serviu da mesma forma como acontecia conosco e acabou que não deu certo.
Com o conceito de que a casa é de todos, todos deveriam ajudar a cuidar certo? Pode ser, mas não foi assim que funcionou e aí eu comecei a comparar a experiência de uma tia que sempre cuidou de tudo sozinha e vi que a vida dos filhos dela não é muito diferente da nossa. Todos têm suas famílias, suas casas e o fato de nunca terem ajudado com a organização ou o serviço não interferiu em suas vidas de forma negativa.
E nesse momento comecei a ver que estava na hora de quebrar meus próprios paradigmas. Comecei a ver que eu estava me desgastando e me frustrando com uma situação que eu mesma poderia modificar, uma vez que não estava dando certo da forma como eu estava tentando conduzir.
Já tem quase 2 anos que estou repensando esse posicionamento. Mudar não é fácil. Abrir mão de princípios dói. Dói principalmente porque abrindo mão você tem que admitir que de alguma forma você fracassou.
É ruim sentir que fracassou, mas é muito pior sentir frustração por não estar conseguindo fazer as coisas funcionarem como você crê que devam.
Uma vez ouvindo um programa de rádio, o apresentador Luiz Gasparetto falou que se o processo educativo causava dor era porque o educador estava indo pelo caminho errado.
Juntando tudo isso, tecendo essa colcha de retalhos, hoje eu posso dizer que quebrei paradigmas.
Hoje a casa é minha, estou recuperando meu espaço...coisa que não está sendo nada fácil face ao mal costume das meninas.
Não pretendo fazer como minha mãe. Não pretendo ser tão radical. Cada um tem seu quarto eu não vou invadir, não vou mudar coisas de lugar. Cada um cuide do seu porque disso não abro mão. O resto, deixem comigo!
Hoje estou mudando a forma de ver as coisas. Se a colaboração não for no sentido de ajudar no todo, que cada um cuide da sua parte sempre e colabore com o todo espontaneamente.
E aí lembrei de um ditado que diz: se você quer ver a mudança no outro, mude a si próprio primeiro. Eu mudei e os resultados começam a aparecer!

Agora recupero, além da minha individualidade, o casamento 'limpeza e música' e eles que aguentem! ahaha

Tenham uma excelente e abençoada semana!

Cláudia

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