quinta-feira, 6 de outubro de 2011

De quantas formas alguém pode ser especial?


Quando ele chegou era especial porque foi muito, muito esperado! Ele foi tão especial quanto cada um dos meus filhos porque embora eu não tivesse amizade ainda com a mãe dele, eu torcia muito para que ela realizasse seu grande sonho: a maternidade!

Ah, como ele era (e continua sendo) lindo! Cabelinhos cacheados, rostinho de anjo, olhos brilhantes e espertos!
E aí ele foi crescendo e fomos notando que ele era um pouquinho diferente das outras crianças da idade dele. Tudo bem, afinal todo mundo tem suas diferenças!
Ele era encantador, tinha (e ainda tem) um sorriso cativante mas não gostava de multidão, não gostava que ninguém ficasse pegando nele, beijando, mas e daí?! Qual bebê gosta de ficar sendo agarrado, beijado, apertado, principalmente por pessoas de pouco contato, não é verdade?
Aí ele passou a ser especial porque para se ter o direito de participar da vida dele era preciso aprender a respeitar seu espaço. Isso feito, ele se comportava como um lord.
Ele tinha suas próprias regras para a convivência e quem quis receber ensinamentos dele observou, respeitou seu espaço e seu tempo e de quebra conquistou seu coração!
E em sendo ele um pouquinho diferente...mas só um pouquinho...começamos a ver que atos como andar, falar, pedir coisas não são tão simples assim, não são tão naturais assim, que a gente se acostuma a achar tudo muito natural, mas que na verdade todas estas coisas são muito difíceis para quem está entrando neste mundo agora!
E cada conquista com ele era uma grande alegria!
Eu sempre me despedia dele dizendo: 'eu vou te beijaaar...' e ele encolhia os ombrinhos com uma carinha sapeca como que dizendo: 'não vai não, porque eu não vou deixar'. E eu respeitava o tempo dele porque até um beijo pode ser uma violência quando o outro não o quer receber, entretanto no dia que falei que ía beijá-lo e ele veio ao meu encontro com o corpinho e me deixou beijá-lo...meu Deus, eu chorei de emoção! E aí eu beijei, beijei, beijei para compensar todos os meses que ele não deixou! rss
Eu, definitivamente, havia conquistado o direito de beijá-lo!!!
A Taís fazia dele gato e sapato: beijava, abraçava, agarrava e se jogava no chão grudada nele. Com ela estava sempre tudo bem, mas naquele momento ele me deu o privilégio de poder beijá-lo!
E daí em diante chorei várias vezes de emoção quando o telefone tocava e eu ouvia: 'Cláu, ele pediu água', 'Cláu, ele foi até a geladeira e pediu danone', 'Cláu, fui na loja tal e ele pediu pirulito', 'Cláu, ele comeu bolacha com manteiga'. E a cada novidade chorávamos de emoção! E nos divertíamos também vendo-o encontrar letras em tudo que se possa imaginar, até mesmo nas ranhuras do asfalto na rua!
Choramos de ansiedade, choramos de apreensão algumas vezes, mas choramos muito mais de alegria com suas conquistas!
Ele vive para nos surpreender! E surpreende com seus aprendizados, com coisas que ninguém sabe onde ele aprendeu! Com quase 2 aninhos ele identificava números simples e nós pensávamos: deve ser por causa do Vila Sésamo que mostra os números e ele presta muita atenção, mas  hoje ele indentifica números de 3 dígitos...que nós sabemos! E ele indetifica figuras e as nomeia, tais como hexágono! De onde uma criança de 4 anos tirou esse nome tão difícil?!
E para nós ele cresce, supera todas as nossas expectativas e nos surpreende, mas para a sociedade ele tem que ter um rótulo apenas porque é um pouquinho diferente. É autista?! É asperguer? Tem espectro? É superdotado? Tem QI acima da média? É autoditada? De que importa tudo isso para nós que convivemos com ele, para nós que o amamos?! Nada, afinal ele é um garotinho esperto, cheio de vida!
Para a o sociedade ele poderá ter um rótulo mas para nós ele é um garotinho que gosta de letras e números, mas também gosta de carrinhos, bolas, caminhões e ônibus...os de verdade, sabe? Gosta de bicicleta, de balancinho, de brinquedo barulhento como todo menino, como toda criança!
A sociedade precisa do rótulo porque não se dá o direito de tentar compreender com o coração e precisa de teorias para lidar com quem é um pouco diferente enquanto que apenas o coração já resolveria toda a questão! Quem se permitiu observá-lo e conhecê-lo não precisou de teoria alguma para compreendê-lo e para interagir com ele! Não precisa mesmo, porque embora seja um tiquinho de nada diferente, ele compreende regras e as segue.
Com amor e boa-vontade ele poderia nem obter um rótulo! Com amor e boa-vontade ele poderia cursar a escola normal sem ser diferenciado por suas habilidades. Com amor e boa-vontade era só e tão-somente dar a ele as atividades adequadas ao seu desenvolvimento. Para isso eu tenho certeza que não é necessário nenhuma teoria, nenhum rótulo!
Hoje é preciso matar um leão por dia para que ele tenha o direito de receber educação adequada  porque fazer uma atividade diferenciada para ele dá trabalho!
Será que dá mesmo?! Ou será que é mais cômodo trabalhar com um padrão e todo o que sai do padrão tem que ser encostado, tem que ser isolado, tem que ser levado para outro canto?!
Ele é um garoto alegre, cheio de vida, de energia, que fala coisas muito divertidas e que aprende, não da mesma forma que as crianças dentro do padrão, mas que aprende no tempo dele e muito mais do que as outras porque ele demonstra conhecimentos que as outras não possuem!
Ele é encantador e é louco pela Taís!
Sua primeira frase: não Taís!
O primeiro aniversário que curtiu sem chorar? O da Taís!
A única pessoa com quem ele fala ao telefone? Taís!
É muito prazeroso ver os dois brincando, pulando na cama, pulando de uma cama na outra, correndo no quintal!
E é muito divertido para mim ser não a 'tia Cláu' como a mãe dele se refere a mim, mas ser 'a mamãe da Taís' como ele me identifica!
É muito divertido saber que quando ele vê um cachorro labrador que ele identifique como 'o cachorro da Taís'.
E se para a sociedade ele é especial apenas porque possa vir a ter um rótulo, para nós ele é especial porque é nosso menininho amado e porque nessa caminhada muito tem nos ensinado sobre o ser diferente!
Para mim ele é especial porque é o melhor amigo da Taís, porque chama o Tales de 'meu amigo', porque adora vir correr no meu quintal, porque adora jogar bola, porque adora brincar de pular com a Taís, porque quando vem aqui não quer ir embora e pede para a mãe 'só mais um pouquinho', porque é um menino feliz!

Eu aprendi com ele que ser diferente não é bom nem ruim, é apenas diferente!

Se você convive com alguém um pouco...ou muito...diferente, não julgue, não tente nivelar pelo padrão e descubra de quantas formas essa pessoa poderá ser especial na sua vida, não por ser diferente, não por ter um rótulo, mas por você conseguir se desprender de padrões para  compreendê-la. Quem sabe você até conquiste o direito e o privilégio de ser amado por esta pessoa!
 
Grande beijo,
Cláudia

4 comentários:

  1. que menininho lindo Claú!do jeito que descreveu ele é um anjinho lindo por dentro e fora, sorte de quem convive com ele.

    bom fim de semana

    beijos

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  2. Ola Claudia, mais uma vez lindo texto.Quem somos nos para julgar não é mesmo? Somos todos seres imperfeitos e que convivendo com as diferenças de cada um conseguimos viver a plenitude da vida. Que Deus ilumine vc, sua família e todos em sua volta. Bjs e bom fim de semana.

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  3. Nossa !!!Amei o texto muito lindo.

    Que Deus continue abençoando sempre a sua familia e que vc sempre coloque textos lindos assim para refletimos sobre a vida

    BeijinhOos

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  4. Lendo esse texto me senti desleixada por nao ter conhecido esse cantinho antes. Precisamos de mais muito mais pessoas com esse nivel de sensibilidade pro mundo ficar um pouquinho melhor; mas eu ainda acredito que um dia ele fica. afinal resquícios de vc são passados pros seus e assim por diante.Quero estar sempre aqui. Lindo texto, gostosa sensação a que sinto agora depois de lê-lo. obrigada. Beijos
    www.meuchocolateeeu.blogspot.com

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