Por motivo de indignação profunda por ainda haver escolas que abordam família apenas por constituição sanguínea e que admitam como filhos apenas os que chegam recém-nascidos, vou postar este texto!
Na semana falo da Páscoa e posto fotos!
A Escola e o Aluno Adotivo ou Abrigado
A Escola e o Aluno Adotivo ou Abrigado *
Trabalhar o tema educação nas escolas é sentido e vivido por muitos pais adotivos, Grupos de Apoio à Adoção e abrigos como uma necessidade. São muitas as situações de angústia e desconforto por uma realidade que não inclui os filhos por adoção ou as crianças/adolescentes abrigados nos conteúdos didáticos e nas relações sociais estabelecidas no universo escolar.
A escola cumpre papel fundamental na formação intelectual e moral de nossas crianças e jovens. Coloca-se como um espaço onde são aprendidos e reproduzidos conceitos e comportamentos culturalmente vividos na sociedade; também conceitos relacionados à família e a adoção. É o espaço propulsor de mudanças e de descoberta de novos conhecimentos.
A escola atua como parceira dos pais e dos abrigos na educação de seus filhos e abrigados, pelo tempo em que permanecem na instituição e pela influência que as relações e o meio social exercem na formação do indivíduo. Entendida a sua importância, faz-se necessário ponderar sobre dois aspectos: a família que se constitui ou aumenta pela adoção e, as situações temporárias e muitas vezes indefinidas das crianças e jovens nos abrigos.
Assim como há algum tempo atrás não foi possível pensar a família a partir do conceito aprendido da 'família nuclear burguesa', a família tradicional: pai, mãe e filhos, unidos pelo casamento e o sistema educacional deixou de considerar este modelo como ideal, normal e desejado e passou a incluir a realidade de outros arranjos familiares - filhos de pais separados, de família monoparental, de famílias recompostas, de união consensual, da convivência com membro do grupo familiar ampliado, etc. - retirando, dessa forma o estigma de 'anormalidade' desses novos arranjos familiares, fazendo com que nossas crianças deixassem de se sentir diferentes e excluídas do sistema educacional, o mesmo precisa acontecer, agora, com a família por adoção e a criança temporariamente abrigada.
Nesta mesma perspectiva a família adotiva é considerada como ‘inferior’ ou de ‘menor valor’ porque não atende ao modelo tradicional de filiação biológica. Forma-se e se consolida pelas relações afetivas e não pelas relações biológicas.
Todos nós aprendemos na escola como alguém se torna filho através da biologia, da união das ‘sementinhas’ do homem e da mulher, mas não aprendemos que alguém pode se tornar filho de outras maneiras, como conseqüência do afeto e do desejo; que alguém pode ser mãe e pai de filhos que não têm a sua ‘sementinha’, o seu sangue. Não aprendemos a diferenciar o ato de ‘procriação’ do ato de ‘filiação’ e entendemos as duas palavras como sinônimos, quando na verdade não o são.
Não aprendemos na escola que não basta conceber um filho, é preciso amá-lo e deseja-lo como filho para que se torne filho. Enfim, aprendemos que pais ‘verdadeiros’ são os pais biológicos, os que colocam no mundo e isto nem sempre confere com a verdade. Talvez se tivéssemos aprendido que pais são os que amam, se responsabilizam, os que ajudam os filhos a crescer e os que assim são reconhecidos pelos seus filhos, não usaríamos a expressão ‘pais verdadeiros’ para fazer referência aos que procriam. Porque fazendo tal referência, por conseqüência, consideramos os pais adotivos como não sendo verdadeiros, como falsos pais.
Se pensarmos bem, veremos que também os pais biológicos adotam afetivamente como seus filhos as crianças que geram, quando decidem assumi-las como pais. Outros simplesmente participam do ato da procriação, mas não se tornam pais. Então, os que assumem afetiva e efetivamente crianças como filhos, independente de serem ou não seus genitores, se tornam PAI e MÃE de verdade.
É preciso reformular os conceitos de paternidade, maternidade e filiação e considerar a variedade de situações familiares. É preciso desaprender o aprendido para poder entender de outra forma, sem preconceitos, sem mitos. E não se desaprende num dia o que se aprendeu numa vida. E não se muda de uma hora para a outra o que está no nosso coração, no nosso entendimento e visão do mundo e das coisas.
É preciso mudar culturalmente e isto demanda tempo. Mas todos concordamos que está na hora de começar e, neste processo de mudança, é fundamental a participação das Unidades Educacionais. Acreditamos na Escola, no seu papel educativo e formativo das novas gerações. Acreditamos nos educadores e na sua capacidade e sensibilidade para fazer acontecer o novo.
Entendemos e partimos da premissa que os educadores são pessoas da população, que também passaram pelos bancos escolares e que também aprenderam a valorizar a filiação biológica; que não foram preparados e educados para falar sobre adoção ou sobre crianças abrigadas com situação familiar ainda indefinida, para viver e entender os múltiplos aspectos de uma relação adotiva. Como toda a população, também carregam preconceitos e mitos perpassados culturalmente na família e na escola.
Sensibilizar os educadores para a questão da adoção e da necessidade de reformular conceitos, buscar informações e compreender o papel da escola na construção de uma nova cultura se coloca imperativo no trabalho dos Grupos de Apoio à Adoção, até porque com o aumento desses grupos em todo o país, os filhos por adoção estão cada vez mais esclarecidos sobre esse assunto e aos educadores seria importante acompanhar essa evolução cultural.
Thelma Pascucci Ferrão – Presidente do ACONCHEGO Grupo de Apoio à Adoção de Bragança Paulista – maio/2006-05-12
Em comemoração ao dia 25 de Maio – DIA NACIONAL DA ADOÇÃO
* Adaptação do texto ‘Escola, as questões da família e adoção’ de Isabel L. Funk Bittencourt, Assistente Social do Judiciário de Santa Catarina, publicado no Boletim Informativo nº 38 do GAARC – Grupo de Apoio à Adoção de Rio Claro em setembro de 2004.
CLAUDIA,TEM SELINHOS NO MEU BLOG PARA VOCÊ !
ResponderExcluirBEIJOS
Parabéns, Cláudia. Ótimo texto!
ResponderExcluirLevarei com certeza para a escola em que trabalho. Será de grande valia ser trabalhado em reuniões pedagógicas. A Educação brasileira precisa de uma política mais abrangente. Infelizmente ainda estamos engatinhando.
Abraço
Carlos Alberto